Palermice - Jorge de Sena


Jorge de Sena foi um dos Grandes que não sabia estar calado e que tinha uma forma "palerma" de dizer verdades, As suas Verdades.

Já anteriormente postei "Carta a Meus Filhos" de Jorge de Sena, agora chegou a hora de lermos Noçoes de Linguística do mesmo autor.

Compreendamos a vida de Jorge de Sena para podermos entender os seus poemas, o que está por detrás do que escreve, tanto em sentimentos como o homem em si.

Separar a poesia de Jorge de Sena do homem é como separar o caule da planta. Um sem o outro não fazem sentido.

Mas eu sou um palerma, não acreditem em mim...
Em breve postarei a biografia de Jorge de Sena, não esqueci a promessa no artigo anterior de escrever sobre a ligação que existe entre o Tibete e a roldana do estendal da roupa do 5º esquerdo do prédio onde moro.


NOÇÕES DE LINGUISTICA

Ouço os meus filhos a falar inglês
entre eles. Não os mais pequenos só
mas os maiores também e conversando
com os mais pequenos. Não nasceram cá,
todos cresceram tendo nos ouvidos
o português. Mas em inglês conversam,
não apenas serão americanos: dissolveram-se,
dissolvem-se num mar que não é deles.
Venham falar-me dos mistérios da poesia,
das tradições de uma linguagem, de uma raça,
daquilo que se não diz com menos que a experiência
de um povo e de uma língua. Bestas.
As línguas, que duram séculos e mesmo sobrevivem
esquecidas noutras, morrem todos os dias
na gaguez daqueles que as herdaram:
e são tão imortais que meia dúzia de anos
as suprime da boca dissolvida
ao peso de outra raça, outra cultura.
Tão metafísicas, tão intraduzíveis,
que se derretem assim, não nos altos céus,
mas na caca quotidiana de outras.

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